Vocação
Muita gente confunde vocação com sonho de vida. Pode até
sonhar vivendo a vocação, mas, o chamado a uma vocação nunca deve ser encarado
como realização pessoal, porque é algo que, apesar de depender de uma resposta
humana, não é de origem humana, mas sobrenatural.
Se encaramos a vocação como sonho, ela pode se tornar uma
carreira e aí mora o perigo. Podemos encontrar muitas pessoas que se
consagraram a Deus em uma vocação específica, mas que não são felizes e talvez
o motivo seja que, tenham olhado a consagração como carreira, como sonho de
vida e é claro que dá errado.
A vocação, se não é entendida como um chamado específico e
Divino, não poderá ser vivida plenamente, pois ficará presa aos moldes e
limites da capacidade humana de pensar e realizar. A maior prova disso está na
biografia dos santos, que, apesar de enfrentarem sofrimentos insuportáveis a
qualquer um de nós, não perdiam a paz e a felicidade. É claro que eles não eram
masoquistas, mas, tinham entendido que a sua vocação era originada e sustentada
por uma graça sobrenatural inalcançável à compreensão humana, vejamos o caso do
diácono São Lourenço por exemplo que foi queimado vivo numa grelha.
Se paramos para pensar, somente com as virtudes e habilidades
humanas, ninguém seria capaz de realizar plenamente o seu chamado e isso também
aprendemos na história de vida dos santos.
A vocação acontece quando alguém ouve a voz que chama, sente
que deve ir, e segue confiando somente na voz que chamou. Pode acontecer que
seja como quando viajamos: Poucas vezes vemos o motorista ou o piloto, e, no
entanto, confiamos que ele está nos levando para o lugar certo.
Não podemos também ver a vocação como tábua de salvação. Ou
seja, assumir uma vocação não garante ipso
facto a salvação da pessoa. A realização da vocação em si não salva. Ela é
sim o veículo que levará de maneira mais “rápida” à salvação, quando for vivida
conforme dito acima.
Um exemplo: Se alguém precisa ir de uma cidade para outra, e
for a pé, talvez chegará ao destino, mas certamente correrá muitos perigos e
levará muito tempo. Se, no entanto, for de automóvel ou avião, correrá muito
menos perigo e chegará bem mais rápido.
Todos podemos chegar à salvação, e a vocação pode ser esse
veículo que ajuda no trajeto.
Outra imagem do veículo vem da indústria farmacêutica. Para
o medicamento chegar ao corpo e tratar a doença, precisa de um veículo (pode-se
ler isso nas embalagens de medicamentos) que o ajude. Por exemplo: para o
paracetamol tratar a dor, ele precisa de um veículo que o leve ao interior do
organismo que pode ser o comprimido ou uma solução em gotas.
A vocação não nos salva. Ela é o veículo que nos leva à
salvação que é o Cristo.
Outro aspecto fundamental da vocação, é a doação da vida.
Atender ao Chamado, implica no ato de doar-se inteiramente a Quem chama.
Vivemos num mundo de apegos e de pouco autoconhecimento
propositalmente causados, e, por conseguinte, vamos, muitas vezes vivendo uma
vida que não é a nossa própria.
No entanto, só pode doar a vida quem tem a vida nas mãos. Ou
seja, só pode se doar quem é dono de si. Da mesma forma, só pode se prender a
uma vocação, quem é livre o suficiente para isso.
Fabrício Alves da Silva
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