Geração cabisbaixa

Antigamente a gente se distraía olhando para o alto, soltando pipa, jogando avião de papel, subia em árvores e hoje em dia olhamos sempre para baixo. 

Já notou que hoje temos a cabeça sempre voltada para baixo? A nossa cerviz se curva diante das novidades digitais, e isso tem causado até mesmo problemas físicos e transtornos psicológicos como a nomofobia.

Há pessoas que sofrem crise de ansiedade se ficam sem sinal de internet por 30 segundos. Outros não conseguem se controlar ao ver a luz de nova mensagem piscando e “precisam” verificar, não têm autocontrole. 

Não erguemos a cabeça para nada: nem para comer, nem para conversar com alguém, nem para fazer uma oração, nem para ver o clima; fomos capturados pelos pixels e viramos seus escravos. Comemos olhando para baixo, conversamos olhando para baixo, rezamos olhando para baixo, andamos olhando para baixo... viramos a geração cabeça baixa.

A atitude servil diante da digitalização do mundo nos obriga a tirar os olhos das coisas altas, reais, superiores e voltar nosso olhar para baixo, para o chão. Seria engraçado, se não fosse trágico, ir ao restaurante e ver todas as pessoas (com exceção dos funcionários) comendo, bebendo, rindo, mas com os olhos no aparelhinho, incluindo casais. Parece um monte de galináceo. 

As pessoas não se olham nos olhos. Digo que é trágico por notar que a virtualidade toma cada vez mais o lugar da realidade e cada dia mais somos empurrados para longe das coisas reais e lançados em um lugar onde a alienação toma o lugar da razão; a fantasia vira objetivo da vida. Vivemos alienados. Sabemos mais sobre a vida de um ex-bbb ou de um artista do que o que se passa na vida do amigo, por exemplo.

A tecnologia não é ruim, mas deixar-se alienar por ela sim é muito ruim, por nos tornar alheios ao mundo real. A realidade, por mais dura que seja ou pareça, é sempre melhor que qualquer tipo de anestesia virtual.

A imagem da cabeça baixa sempre foi sinal de derrota, servidão, tristeza, cansaço... Ainda hoje a cabeça baixa significa as mesmas coisas com a diferença que antes buscávamos superá-las e agora disfarçamos usando o aparece como desculpa para não conviver, como fuga da realidade mas não percebemos que agora vivemos cabisbaixos.


Fabrício Alves da Silva


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