O silêncio de Deus, uma ausência presente

Não há coisa pior do que o silêncio no momento em que mais precisamos de palavras, conselhos ou até mesmo correções.

Na vida espiritual especialmente, ouvir a Deus é um exercício contínuo de busca e espera. Os nossos ouvidos estão tão acostumados ao barulho e o silêncio nos incomoda; já não conseguimos ficar em silêncio por muito tempo.

No entanto, o silêncio é uma grande escola de disciplina e equilíbrio espiritual e humano. Saber silenciar é uma virtude que qualquer pessoa pode aprender. O silêncio tem o poder de ordenar as emoções e de ir aos poucos, colocando tudo no seu devido lugar.

Jesus sentiu profundamente a dor do silêncio de Deus, no Getsêmani, na flagelação, na humilhação, quando recebia a coroa de espinhos, no caminho até o calvário e até na cruz, a ponto de questionar o aparente abandono do Pai: “Eloi, Eloi, lamá sabactani1?”

Nós também, por diversas vezes experimentamos o sabor amargo do cálice do silêncio. Seja quando não O ouvimos ou quando não atende as nossas súplicas. Parece mesmo que fomos abandonados por Deus e vem logo ao nosso ouvido a voz do inimigo questionando: “Teu Deus, onde está?2

Precisamos compreender que Deus não é um gênio que existe para satisfazer os nossos desejos. Deus é um Pai que deseja nos salvar para sermos felizes eternamente com Ele no Céu. Quando é necessário, Deus nos responde e atende. Quando não é, Ele apenas nos consola, ou simplesmente espera de nós uma atitude de abandono nas Suas mãos, pois, a oração não tem a função de mudar os desígnios de Deus, mas conformar o nosso coração com a Sua vontade.

 

Quando o pai vai ensinar o filho andar de bicicleta, por exemplo, ele o segura por um tempo, mas de repente o pai o solta deixando o filho encontrar o equilíbrio necessário para não cair, mesmo sabendo que ele pode cair e se machucar.

Todas as vezes em que não ouvimos a Deus, talvez seja o momento em que Ele tenha soltado a nossa bicicleta para que nós aprendamos segundo o que Ele já nos ensinou encontrar o caminho certo, ou talvez precisemos fazer uma boa e sincera confissão para retirar o entulho que atrapalha essa comunicação.

Perto Ele sempre estará para curar as feridas se cairmos, para nos consolar nos momentos necessários. Pode até não falar ou fazer-se sentir, mas estará lá para nos mostrar que a vida não é tão complicada como os nossos olhos veem e que tudo neste mundo passa, até as dores.

A ausência presente de Deus em nossa vida precisa ser fecunda em cada área da nossa história de vida pessoal e comunitária. Deus nos ama e ensina mesmo quando não age. Ele responde também quando não fala.

Nos momentos de abandono, nos unamos ao Cristo abandonado na Cruz e no Sacrário.

“Deus não nos abandona apenas se esconde para aguçar os nossos sentidos em buscá-Lo”.

Padre Pio de Pietrelcina.

 

Fabrício Alves da Silva

 

1.Marcos 15, 34;

2.Salmo 41


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