Perdidos?
Quando o ser humano perde a consciência da dignidade que lhe é própria, para não se sentir um peixe fora d’água, passa a querer nivelar todas as outras pessoas por baixo como reflexo da visão que desenvolveu de si mesmo. Passa a desacreditar em coisas superiores e transcendentais. Começa a pregar para si mesmo e a difundir a ideia de que essas coisas não existem e que é impossível alcançá-las, criando para si conceitos que convenham com a sua nova forma de ver a vida e aliviem - ainda que ilusoriamente - a sua consciência.
Ao chegar nessa situação o pessimismo toma conta de sua mente e por não conseguir atingir certos objetivos especialmente ligados ao equilíbrio das vontades, usa como subterfúgio a fraqueza humana, e conclui que se não consegue viver virtuosamente, ninguém mais é capaz de fazê-lo, afinal de contas é humano também. Nesse estado, não acredita em quem afirma viver de forma equilibrada e tenta desabonar o seu interlocutor baseando-se em comportamentos parecidos com os seus, citando erros alheios para justificar-se, porém, já ensina o dito: um erro não justifica o outro.
A dramática decadência das artes e as publicações nas redes sociais, ilustram de maneira lúgubre a perda da dignidade que grande parte da humanidade parece ter sofrido e isso traz consequências pessoais e sociais. Se alguém perde a noção de dignidade, a pessoa se permite vivenciar realidades degradantes e até animalescas.
Renunciar à própria dignidade e, por consequência do amor-próprio, pode ser responsável por fazer brotar no ser humano a maldade, suprimindo a compaixão natural e que terá como fruto a indiferença e a indiferença por sua vez estabelecida anestesia a consciência a despeito de outrem.
Naturalmente ninguém pode abrir mão de sua dignidade. Para que isso aconteça, é preciso a ação de um agente externo que pode fazer isso intencionalmente, normalmente com o objetivo de exercer controle sobre tal pessoa roubando sua subjetividade e abandonando-a na sarjeta.
A dignidade natural do ser humano é muito superior à de qualquer outra obra da Natureza e a sua perversão causa desequilíbrio em todos os âmbitos da vida pessoal e comunitária. A pessoa se objetifica e objetifica os outros e essa relação entre objetos permite extrapolar os limites do respeito chegando até à barbárie. Sem dignidade e sem compaixão, o homem é capaz das piores atrocidades.
Resgatar a dignidade humana talvez seja a obra de caridade mais urgente de todos os tempos. Devolver a dignidade das pessoas, foi a principal obra de Jesus Cristo.
Quem reconhece sua dignidade não aceita qualquer coisa, não permite ser tratado como objeto e nem trata o outro como objeto. Não se deve sujeitar a qualquer coisa apenas para fazer parte do grupo. Quem aceita qualquer coisa é a lata de lixo.
Fabrício Alves da Silva
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