O sentido da vida


 Há no ser humano uma capacidade natural de dar nome e sentido a tudo aquilo que faz parte de sua vida. É assim desde a criação: o homem criado dá nome e significado ao que vem depois dele e àquilo que é criado por ele. Quando não consegue significar as coisas, o homem vive uma profunda angústia.

No processo de existência, passamos muito tempo - senão todo tempo- tentando dar sentido à vida erroneamente baseados nas coisas que nos acontecem. Os acontecimentos não podem dar sentido à vida, porquanto que é a vida que dá significado a todas as coisas, porque ela é anterior e superior aos acontecimentos. Esses acontecimentos só ganham sentido quando o homem olha para eles e vê ali a possibilidade de incluir aquilo à sua vida. É um impulso instintivo querer dar nome (significado) a tudo. Porém, se não tem consciência do sentido da vida, passa a imputar aos eventos e coisas a responsabilidade de darem sentido à vida, o que é uma tarefa impossível, pois, só o que não passa pode dar sentido verdadeiro a tudo que passa.

Entre as pessoas que sofrem ou sofreram com a depressão é possível notar que existe um fator comum. Esse fator é justamente a falta de sentido.

Na natureza, a depressão é uma forma de relevo rebaixada que se forma a partir de um longo processo de erosão, um buraco. Essa imagem pode ilustrar bem o caminho que leva a pessoa ao estado depressivo. Tanto na natureza como na vida, a depressão é um fenômeno estranho que não pertence àquele lugar originalmente.

Como evento geológico a depressão é causada por eventos externos, as chamadas erosões, quando a superfície perde a sustentação. No ser humano a depressão pode ser causada pela falta ou perda do sentido da vida, ou ainda por ter depositado esse sentido em algo efêmero, e aqui está uma receita para a ruína, pois, perdendo o que dá sentido, perde-se também o próprio sentido.

Quando não encontra o porquê, quer dizer, o motivo que o mantém vivo, o ser humano tende a ficar desanimado e sente como se perdesse a própria alma, então, viver deixa de ser bom, natural e passa a ser um peso, um tanto faz, e esse é um ponto muito perigoso. É um lugar sem seguranças, desconfortável, como a beira de um abismo.

A perda desse sentido não depende realmente de fatores externos, é um movimento mais profundo, que pode até ser agravado por esses fatores, mas não provocados diretamente por eles, pois, se tem consciência do motivo para viver, os acontecimentos exteriores não têm tanta força sobre o homem. O contrário também acontece. Sem um porquê, qualquer ventinho se torna uma ventania violenta.

Qual então o sentido da vida a não ser a própria vida? A vida tem sentido em si mesma por ser etérea estando assim acima de todas as outras coisas posteriores. Viver é uma consequência da vida. Os acontecimentos cotidianos, os bens materiais, as pessoas e tudo mais, podem ser incluídos no sentido da vida, mas não são partes essenciais já que a vida não necessita deles para existir. Esses eventos podem ajudar a viver melhor, mas nunca podem ser o motivo de viver.

Diz o Viktor Emil Frankl que “quem tem um porquê enfrenta qualquer como.”


Fabrício Alves da Silva

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