Narciso e a Era digital
É praticamente impossível olhar para a obra de arte de Caravaggio e não enxergar ali, uma previsão da cultura atual.
Quem consegue parar para apreciar a representação de Narciso, pode notar com que paixão ele contempla seu próprio reflexo que flutua nas águas do rio. Narciso era caçador, homem forte e corajoso, mas ao se deparar com a o reflexo da própria imagem fica hipnotizado, totalmente arrebatado pelo que vê refletindo nas águas. Foi vencido por um reflexo. A maldição de Eco se cumpria.
A insegurança e a carência de Narciso eram tão grandes que já não conseguia parar de olhar para a própria imagem. Precisava ficar se olhando para reafirmar a si mesmo o quão bonito e desejável era. Morreu de tanto desejar, admirar e adorar aquela imagem.
O que matou Narciso não foi amor-próprio, mas a egolatria. Egolatria e iconolatria é o que vemos nos tempos atuais e nas redes. Muitos vivem como Narciso, debruçados sobre suas próprias imagens. A egolatria revela a insegurança o imenso vazio interior onde flutua a humanidade hodierna. Imagens bonitas, corpos refeitos, pintados... alma?
Toda imagem é efêmera como a erva do campo: a noite está vicejante, mas de dia logo seca.
Fabrício Alves da Silva
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